terça-feira, 10 de novembro de 2015

CIRCO ITINERANTE

O passeio está povoado de migalhas
Inalam o bafio que emanam suas tralhas
É um mundo delirante
Que me atordoa inebriante

O passeio está povoado de abelhas
Que ferram quem passa nas orelhas
São circos itinerantes
De trovoadas e trovantes

O passeio está povoado de formigas
Que transportam suas barrigas e bexigas
São ruas itinerantes
Com paredes murmurantes


X - XI - MMXV




terça-feira, 20 de outubro de 2015

MIGALHAS

Chegamos ao fim da linha. O comboio move-se cada vez mais lentamente. Permanecem os que sobraram à multidão. Dispersos como migalhas, pasmam-se ao enésimo nada. Um certo sentimento de familiaridade ou mesmo nostalgia invade o âmago desta gente-passageira: "Eu conheci todas estas pessoas! Vez após vez, ao longos dos tempos!" "Eu já estive neste comboio! Bem como em todos os comboios da Terra!" "A linha não tem fim! Move-se inabalável rumo ao infinito!" "A multidão nunca envelhece! Só as migalhas no chão do comboio!"

XX / X / MMXV

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Ampulheta

Ó areia que passas entre os dedos!
Ó mãe de todos os medos!
Cada vez te sinto mais tarde
Cada vez te sinto mais perto
Meu corpo é de barco que arde
Minha alma é de flor no deserto
Quem me dera ser o mar que te abraça
Ó areia do tempo que passa

XXIII / IX / MMXV

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Aqui vem Lívio

Aqui vem Lívio, O Velho
Ele tem
olhos de água
Ele tem
ruas de mágoa
Ele tem
dentes de aço
Ele tem
pés de palhaço
Ele vai
a descer o Chiado
Com um
olho tapado
Ele cheira
coca-cola
Carrega
a pistola
Ele conhece
o mundo e o mundo o conhece
E se algo ele sabe é que o Mundo não se mexe
Com os pés para o ar
lá vai ele a arrastar
os fundos ao mar

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015


Ainda ontem eras tu menina
Pelos montes jamais perdida
Perseguindo as ovelhas
Fugindo das colmeias (fintando as abelhas)

Mapeando as estrelas com o dedo
Colhendo as flores da idade
Curiosidade devorando o medo
Braços abertos sobre a cidade

Maçãs do rosto caem longe da árvore
Rosa desabrocha, cria cabeça
Pêssego maduro emana o mistério
Das plantas dos pés ainda por gastar

(inacabado)