sexta-feira, 29 de março de 2013

LUA NEGRA, LUA BRANCA


Lua branca, Lua negra
Dá-me um pedaço dessa febra
Quero teu corpo para conspurcar
Teus seios para descarnar
Descobrir tuas mil máscaras de cetim
E outras mais trágicas e obscuras
Atemorizar tuas noites inseguras
De quando premonizas o nosso fim
Alimentar-me da tua maldade
E rapinar o teu descontentamento

Luís Alves Carpinteiro

quinta-feira, 28 de março de 2013

GWEN


Levanta o volume da rádio
Refunde no decote o gládio
A sala é luxuriosa
Sua mobília é idosa
O candelabro alarma mofino
Se caio mato o menino
O biombo esconde-me da sua beleza
De me deixar de picha tesa
Seus fios são de oiro de ofuscar
Estala tisnada a pele em queimar
Como os seus seios são rosas
O seu rubor nunca me foge aos lábios
As suas pernas sobranceiras torres são
Tão desdenhosas quanto o seu coração
Quando o sinto vermelho palpitar
O meu se rende ao seu suplicar


Luís Carpinteiro
XXVIII / III / MMXIII



terça-feira, 26 de março de 2013

Pó da História


Antes a morte na minha vida
Do que a vida na minha morte
Antes a alma da noite erguida
Do que o dia como doseador de sorte
Como ela a aufere tão fria e aleatória
Eu que a supere para além da vitória
Vitória, essa, que não trará glória
Efémera, esquecida, no pó da história

Luís Alves Carpinteiro
XI / III / MMXIII

segunda-feira, 25 de março de 2013

SOLDADO DO VENTO


Num mundo a preto e branco
O verde soa a pranto
E o amarelo é a cor da pele
Qual a Rainha do Reino do Fel
Milagre seria se fosse branca
Andrajosa fosse a perna manca
Que se revolve em estalidos metálicos
Cambiando as datas por números itálicos
Sendo redigido algures no efémero tempo
Com a celeridade do Soldado do Vento
Corpos marcham, desembainham baioneta
Do sangue célere, a sua silhueta
Morrem, culpam tudo ou nada
É só mais uma cascavel na estrada

Luís Alves Carpinteiro




sábado, 23 de março de 2013

O TRISTE FADO DO HOMEM-FOGUETE


Ao passo que se esfumaça mais um dia
Rá em nascer beija-nos a face
Se houver presa que se cace
Reza às Moiras para que haja banquete
Triste fado este o de incandescer como um foguete
Usurpa-me os olhos a boca e a língua
Apossando-me de falcão engaiolado
Na sua hélia gravateria enforcado
Triste fado o do Homem
Nascer morrer e os vermes o comem

Luís Alves Carpinteiro

sexta-feira, 22 de março de 2013

VELHA CIDADE (Old City)


Se o poeta é um fingidor
Então o poetastra é um mentiroso
Canta como mente
Vive como finge
Chega mesmo a fingir a dor
Dor essa que o encharca até ao osso
Como essa dúvida que o atormenta
Extinguirá ele da cândida luz sua patriarca vida
Ou morrerá ele primeiro da hedionda mentira?
Dessa dúvida, dessa desonra, nasce o verso que logo se lhe tomba
É verdadeiro em não ser verdadeiro, não é brejeiro em ser brejeiro
Quanto mais miserável e indigesto cair, supra triunfante há-de ascender
Do sangue, às tripas, do sexo até à verdade, nunca foi sua a vil maldade
Vil maldade que de tão abjecta o zomba
Lhe leva o maculado sangue e o esquálido dinheiro
Mescla a espessa massa que lhe aufere todo o poder
Poder sobre a maquia, dos rugosos chulos às putas da idade
E ele o seu mais "honrado" cliente
O da picha alçada e da carteira dormente
Chamá-lo-ão em decrépita saudade
"Quando voltas à velha cidade?"

Luís Alves Carpinteiro
XXI / III / MMXIII


quinta-feira, 21 de março de 2013

CIDADE DO AMOR (City of Love)


Nas pútridas margens do teu olhar
Revejo as saliências e as indulgências do teu (a)mar
Que me cegam no fétido ardor
Que exalo da bosta que me fazes sentir!!!
Quando as sardas me picam o rubor ao sangue
Corre a nascente sem nada decidir
Enquanto me percute a pele do tambor
As bombas me ribombam ao demolir
Semeando etereamente a semente do horror
Cortando as pernas à terra onde se fazem expandir
Tudo queima, o bem-estar alcança
Quem morre é o tédio, o perene tédio que lança
Às torres aos castelos da Cidade do Amor
Onde as belas ninfas se copulam sem pudor
Como este poeta que jaz agora sem cor
O meu amor vai-te induir
As cores que agora o tingem são incolores
Meus fantasmas deslavados que urrem de dores

Luís Alves Carpinteiro
XX / III / MMXIII



quarta-feira, 20 de março de 2013

CIUDAD DE MéXICO


Entregues às larvas e aos percevejos
Dos chás de tília aos licorosos de poejos
Olha só como ela balança
Ginga triunfante a dança que a cansa
Trespassava-a possessiva a lança que a amansa
Seu corpo vibra sobre contornos deliciosos
Recheados dos seus perfumes delicados e joelhos airosos
Do oiro que me encandeia eu bebo a bonança
Que alcança vingança nos dias chuvosos
Açambarca a cobrança que lhe revira os olhos
Do decote ao precipício tudo a encanta em suaves molhos
Uma mulher partilham por entre gemidos e espasmos epilépticos
Gemidos fingidos que pela tequilla os toma
Vigorosos e cambaleantes
Da linha lhes resta o cérebro frito no refogado
Seu vulto louco e embriagado
Que por vielas jaz no sono endiabrado
Que lhe trás as belas vistas das sequelas e prequelas do sentimento
No seu cipreste braço envergado
Lhe florescem umas poucas de "buñuelas"
Bem molhadas e bem viscosas
Lambidas das axilas e das mucosas
Das quais as avós sofriam o manto da opressão
Condenadas ao silêncio,
Ao temor,
E ao obscurantismo,
Uma inteira sociedade abeirada do abismo
A veia marcada do absolutismo
Que devora gerações envoltas em misticismo
Da sátira ao drama se desenrola a catarse do sentimento
A farsa que encarcera la vida sombrera
Do bigode ao poncho tudo se tolera
Até uma serpente no sapato de um bandolero violento
O curso das águas arrasta um druida agoirento
Que premoniza a guerra instigada pela fera
Gula simula o sicaro sicário
O romano que o afoga afogado em pecado
A faca que mata virada ao contrário
O sangue que esguicha do peito grelado
Que cai e ribomba bombando del cielo
Troveja o catado que cata do vento

Luís Alves Carpinteiro
IXX / III / MMXIII







terça-feira, 19 de março de 2013

TERRA DOS LIVRES (LAND OF THE FREE) / CASA DOS CegoS (HOME OF THE BLiNd)


Enterrai os vosso próprios mortos
Graças a Deus que existe alternativa para a vida
O sem alternativa destino dita vivê-la sofrida
Se quiserdes comer tendes de pagar
Quanto mais podeis aguentar?
Se eu possuísse visão já jazíeis morta
Quanto mais podeis aguentar?
Terra dos livres (LAND OF THE FREE)
Casa dos cEGOs (HOME OF THE BLiNd)
Aglomerem os vossos valores
Ouro, prata, bronze ou cobre
Entreguei-vos o meu corpo por piedade
Corpo gótico tecido dessa saudade
Com que pescastes o único peixe que houvera já sido pescado
Com que secastes a única ribeira que padecia já sem peixes
E quando a maré para o mar recolhe?
Será a vida do peixe ou do mar que o acolhe
Dos caranguejos, das algas, dos tubarões que lá nadem
Será o mar do mar quando lhe caem
Os esquálidos dentes,
Os gangrenados olhos,
E as leprosas orelhas,
Só Neptuno pelo seu conclave detém o poder de repor a regência do mar pelo mar
E só quando o mar recuperar soberania sobre seu próprio território
Será realmente livre a terra dos livres

Luís Alves Carpinteiro
IXX / III / MMXIII



domingo, 17 de março de 2013

NOTA$$$


Aquela que se auto intitula "nota"
É sem sombra para dúvida a mais pérfida
É cruel para quem a nota
É letal para quem a julga vida
Aos estrondos da sua cria
Que julga trilho qualquer via
Virá depois da ira apátrida
Traçada pela beira recolhida
Se der a febre regícida
Que seja banhada em estricnina
Se ao valor chamar dinheiro
E à moeda chamar coroa
Que o valor lhe chegue à toa
Quando o auferir o sapateiro
E se um dia o souberem contar
Que por meio do peso lhes seja valioso
Pois até um bípede tinhoso
Sabe seu osso receber e dar
Da carne, às lesmas, às verjeiras pútridas
Que ao Deus da caça sabem aprazer
De rituais antigos às caçadas espermícidas
Gira o mundo que agora podes ver
Se a nota é papel das árvores cadente
Então a moeda é o chumbo da lage das lágrimas
Meteoro apoteótico a dEUs temente
Do caixão do seu irmão se viram as páginas
Deveras alquimia recente a quente
Deixa marcas profundas no seu crivado peito
Sacrifica o respeito pelo despeito
O lagarto furtado omnipresente
Na sua jornada vai do gargalo inconsequente
Do charro à garrafa tudo entra sem licença
Metamorfizando a ira e a independência
Volta em força o de Olivença
Do oiro aos oiros da lata
À prata que engana o ourives
Se não fugires pelo menos que te esquives
Faz do castelo lar de ferro  na cubata
Se ao escravo o oiro não coçava
E da labuta não se cansava
O que será o oiro para o rico
Um guardanapo ou um penico?
Se da guerra os Homens vivem
Então da morte eles colhem vida
Se na trincheira eu fui ermida
Ressurreição em vida fingida
As minhas mãos e os meus pés preguem
Como Jesus pregou os seus
Do sangue e dos pregos insurgem os meus
Que me cortem, que me dilacerem

Luís Alves Carpinteiro
XVII / III / MMXIII











quinta-feira, 14 de março de 2013

LUíS VAZ DE (rojões)


Por entre mares encrespados eu naveguei
Na vida mundana eu mergulhei
Que triste fado!
O de incandescer (como uma vela) ascendente
A dúvida que atemoriza o crente
O cadáver massacrado do delinquente
Será verdadeiro quem não mente?
Por giestas púrpuras eu cabalguei
Na vida sem beira eu sufoquei
Oh mar! Meu grande amigo mar!
Apresento-te o meu estimado amigo
Luís Vaz de Rojões
Que rima entre relâmpagos e palpitações
Que para comer persegue trovões
Eu sem heterónimo
Sou vil que desmancha em crómio
Eu sem heterónimo
Sou speed para o teu neurónio
Eu sem heterónimo
Dá o beat que eu rebento em ódio
Eu sem heterónimo
Esquizotrónimo, drugs

Bento Pessoa
Luís Alves Carpinteiro

XII / III /MMXIII


quarta-feira, 6 de março de 2013

HOJE


O meu coração é azul
Como a alva água de uma nascente
Se o sinto em quarto crescente
Sou capaz de perder um dente
Minha vida, maleita e escoriação
Reconfortada por vil canção
Às vezes breve, outras vezes risível
Apalpa meu coração audível
Vislumbra meu amigo, isto foi só hoje!




VIDA CIGANA


A minha alma é verde
Como as profundezas dos oceanos
Pelos cabelos loiros germanos
Eu neguei a minha preferência
Em uma miríade de romenos ciganos
Encontrarei rasgos de eloquência
Não bastariam os clássicos romanos
Para revelar uma tendência?
Suplicas em sacos de chá
Esperas gorgolejante o meu alvará
Para continuar essa vida cigana
Que qualquer dia ainda te mete de cana!

segunda-feira, 4 de março de 2013

CEMITéRIO DOS ELEFANTES


Ontem passei no cemitério dos elefantes
E recordei as mocas que apanhavamos dantes
Lacrimejei em abandonar o nosso destino
Em render nossas asas ao desatino
Serei eu o porco suíno?
Ou serás tu a suína que pina?
Snifo a maldade da tua barriga
Encho minha bexiga de urina que irriga
Mijo crueldade cruelizada pelas nossas faces
Se não me vais matar pelo menos não me maces