sábado, 26 de abril de 2014

AmplexUniverso

Com a fraqueza inerte ao osso
Bebo e como e tremoço
Do melhor q'eu já comi
Já que nada somo do poço
E das chagas q'eu sofri?
E eu que serei mais um aqui?
Se das flores q'eu já vi
Só os tornos eu lhes ouço
Nuvem urbe o céu que surge
Nunca amplexo o Universo


XXVI / IV / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro

domingo, 20 de abril de 2014

TINTASANGUE


Tinta escoa do cérebro até ao pescoço
Do pescoço até ao braço
Do braço até à mão
Da mão até aos dedos
E o cérebro apodrece
E ao braço se lhe tomba
A mão que se decepa ela própria
E os dedos fogem da mesa
Tudo são minhocas que contorcem
ondulam
carecem
Contudo do papel nascem flores
Criadas surgidas do vínculo eterno
Catástrofes de estrofes, amores desamores
Tudo ganha vida na morte
Que a morte fertiliza
Que a morte suaviza
Que a morte tem seus mil anos
Que a morte tem seus mil cantos
Densos-espinhosos como a alma
E o corpo persegue a mão
E mão perde-se na própria palma
Incoerente como a noite que raciona o Sol
E o dia que raciona a noite
Que à proa ostente a sereia embaladora
Que é como uma floresta de mil pomares
Como a cidade e seus mil olhares
Como uma miríade de olhos que escolhemos fechar
Para nos examinar-mos com precisão de cortar à faca
Com a serenidade da escuridão só
Qu'é serenidade de abalar o espírito
Vou-me alimentar do calor de quem passa
Vou suster o mundo pela ponta dos dedos
Que ele não mais me tira a fome
Que ele não mais sucede o vento




sábado, 12 de abril de 2014

POESIA-SENHORA




Poesia-senhora para quem não conhece
Senhora-dada para quem enaltece
Senhora-endiabrada ouve minha prece
Que te pasmes espasmática em noite de epilépse!

Senhora da Alegria
Da comichão da alergia
Da karmicose e cruave magia
Do reticente Do delinquente
Do morto Do vivo Do frio e Do quente
E o mundo que roda e não se sente!

Porém a todos ela se dá
E em todos ela se sente
Porém ela não é de cá
E ninguém sabe o quanto mente


XII / IV / MMXIV

Grande Carpinteiro do Universo

domingo, 6 de abril de 2014

Crueza Análoga aos ritos da alma


Vai e volta. Pega e solta. Vai e vem. Com e sem. Par de mãe. Ser aquém. Custo têm. Custo cem. Durmo Cacém. Acordo sem. Retrocelo. Do muro qu’eu velo. Purfanato. E eu te mato. Durmo casto. Acordo farto. Durmo mato. Não me cato. Se recato. Burburato. Se fiasco. Oiroasco. E se vê-la. E se vela. Moricela. Magricela. Chuviato. Solato. Eu nem sei do que eu faço. Eu nem sei do que eu sou. Eu nem sei do tempo passo. Eu nem sei do tempo grou. Se do grande estardalhaço. O meu ser se estilhaçou. Que vier o ser q’eu caço. Que me siga púrpuramor. Do moer qu’eu faça espelho. E não caia em poiço sem fundio. Pode crer q’eu não me venho. E se me venho viuviu. Do cálice eu empenho. Ou empenhoro no joelho. Emproa a raça imperfeita. Faz a vida de malafeita. E se torta se endireita. Mula fria rarefeita. E se morta não se ajeita. Crua suja sarjeta meita. Puro e duro cru e puro. Nu e furo inseguro. Mastro sobe e corta e morre. Puro milho e juro e frívolo. Mafia cáspia enverga másfia. Máscara másfia maisfrio maisgelo. Maiskilo Maiscelo Maiscrilo Maissêlo. Do selo do crêlo do rito du elo. Crueza Análoga aos ritos da alma. Pura abstração pura tesão. Limão mamão crudão sem mão. Turrita chama os bombeiros!


VI / IV / MMXIV

Luís Alves Carpinteiro

MONSTRUÁRIO


Esta  é uma canção para a crença
Cantem-na suavemente pois a crença é experiente
Cantem-na abruptamente pois a crença é servente
Que a crença tem braços como um corpo gigante
Têm tentáculos como um polvo usurpante
Têm espinhos como um poço sem fundo
São estes os grilhões que sustentam o mundo
São estes os mundos que demos ao mundo
Mil e uma maneiras de suster
Mil e uma maneiras de morrer
Morrer dentro do mundo
Morrer dentro de nós mesmos quando somos o mundo
Que ser humano é ser alienígena
É ver as pirâmides do alto do prisma
É combinar encontro com os olhos
Deixá-los pendurados
Mandar-lhes pedras e fugir-lhes
É subir à montanha
É mergulhar no vulcão
E emergir sem vida


VI / IV / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro







sábado, 5 de abril de 2014

LINGUAGEM & ROUPAGEM

Oh sociedade tã oprimida
Quero saber quem te oprime
Quero ser Eu quem te oprime
O que te oprime mais?
A palavra ou a acentuação?
A acentuação ou a acepção
da palavra?
Venham a mm porque vos quero
acentuar
Quero exaltar vossa mortandade
Dormimos tememos vomitando detergente
Que nos desinfecta o céu à boca
à boca os céus lábios dados co'a morte
Detergentevómito na minha ideia louca
Que  Nos ama ou nos mente (?)
QUe Nos ama e nos mente (?)
que cria ou sente (?)
Que cria e sente (?)
No principio era o verbo
E o verbo era viver
E com toudo o verbo verbava
do ferido instinto que capitulava
feroz
e atrás do verbo a palavra salivava
impaciente
Co'a ânsia de ser atropelado
Co'a ânsia em ser esfarrapado
Cavalo negro de corcel endiabrado
galopante esmigalhante de nossos peitos
relinchante fumega como quem cheira
E eu Co'a vontade de tingir roupa
de violinar-lhes a linguagem frouxa


V / IV / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro

quarta-feira, 2 de abril de 2014

APNEIA


Existem comunidades ou comodidades:
Que é mais cómodo falar mas sozinho.
Que é mais cómodo sair mas de fininho.
Que é mais cómodo dormir de joelhos ou até mesmo deitado.
Que mais cómodo é reduzir toda a respiração ao máximo.

Respiro irredutível
Que meu sono é apneia
Meu suspiro é mais gritante
que o canto da sereia

Que humildade têm um caixão
Enterrado com rosas com paixão
Ressuscito bebo a carne em vão
Sabe quemquantas mais me restarão

Divago ao sabor do carrossel
Que centrifuga o nevoeiro
Quem rebola é só a pele
Com que coseram o mundo inteiro


II / IV / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro









terça-feira, 1 de abril de 2014

SOU UMA FORMIGA PORRA SOU UMA FORMIGA


Sou tudo se o disserem de mim
Sou tudo sou todo todo até ao fim
Sou cúpula de panteão
Sou calçada de bica
Tenho esta sede de cão
Sou o lobo que s'inabita
Sou cordeiro endiabrado
foge dos becos aos becos à alma
Sou chifrudo sou corcovado
Sinto ser, caminho vago
Distorço vil rumo à desalma
E chifro em-contra-a-carapaça
desalinho cruínho deixo cuspo no vinho
Disterço-me, rio-me, rito-mo
sozinho.
(...)
Mas como se...
Não sou grande...
Não sou grande para a solidão
Não...
foda-se!
Sou desgraça!
Destendo os ombros e a cabeça caí
Parto os dentes e a língua fly-fly
E as mangas eternas...
imaginárias, soltas, rumino, termino
Rumàcidade eu caminho eu sozinho.
e inho e inho. e inho e inho.
Deixo o corpo seguir Seu caminho
e inho e inho. e inho e inho.
A sombra persegue ofegue ou fede
E o corpo persegue o rosto e o rosto persegue o corpo
E o rosto  persegue o corpo que persegue o rosto
Da bainha eu desembainho a espada o destino
Do destino eu desembainho as flores o burmoinho
E...
(..)
Sou Eu
Eu...
Sou Eu finalmente quem insurge e desinsurge
Ressurge se o Céu for grande e grande E GRANDE
Oh grande!
Mas como se...
Não sou grande...
Sou uma tremenda formiga
Porra!
Sou uma formiga, outra vez
SOU EU eu eu eu


I / IV / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro










Não podeis olvidar porém
Obstante sou também o que não dizeis de mim