domingo, 20 de abril de 2014
TINTASANGUE
Tinta escoa do cérebro até ao pescoço
Do pescoço até ao braço
Do braço até à mão
Da mão até aos dedos
E o cérebro apodrece
E ao braço se lhe tomba
A mão que se decepa ela própria
E os dedos fogem da mesa
Tudo são minhocas que contorcem
ondulam
carecem
Contudo do papel nascem flores
Criadas surgidas do vínculo eterno
Catástrofes de estrofes, amores desamores
Tudo ganha vida na morte
Que a morte fertiliza
Que a morte suaviza
Que a morte tem seus mil anos
Que a morte tem seus mil cantos
Densos-espinhosos como a alma
E o corpo persegue a mão
E mão perde-se na própria palma
Incoerente como a noite que raciona o Sol
E o dia que raciona a noite
Que à proa ostente a sereia embaladora
Que é como uma floresta de mil pomares
Como a cidade e seus mil olhares
Como uma miríade de olhos que escolhemos fechar
Para nos examinar-mos com precisão de cortar à faca
Com a serenidade da escuridão só
Qu'é serenidade de abalar o espírito
Vou-me alimentar do calor de quem passa
Vou suster o mundo pela ponta dos dedos
Que ele não mais me tira a fome
Que ele não mais sucede o vento
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