sábado, 23 de fevereiro de 2019

COMBOIO QUE EMBALA

Ninguém sabe
Ninguém ousa!
Ninguém vê o que se passa para lá destes muros...

Latir de cães, uivar de homens
Permitem antever uma longa noite antes do dia.

(...)

A mãe preta que dorme cansada
A criança que lhe desperta no regaço
O silêncio murmurante da criança
É mais estridente que cem sirenes!

A mãe velha não pode mais embalar
E o comboio que nos embala a todos?
A criança cresceu sem ossos
Por isso o berço deixou de lhe servir

Olhos que vêem sem lobrigar
São de obsidiana lampejante em inércia perfeita

As pálpebras negras ouso dizer, as do mundo
Ânsia de as fechar, de olhá-las por dentro
Quantas noite sem brisa, quanta brisa sem ar
E o comboio que nos embala a todos