sábado, 17 de dezembro de 2016

Sou
Onde eu quero estar
Decide ou deixa-te pairar
Assim
A gotejar
Dos ombros dos gigantes
Pés no chão
Cabeça no céu
Esperar por algo que saiba aguardar
Pelo último senão
Resguardar os meus restos mortais
Até que a vida os leve
Até que o vento treme
Desígnio tão perene
Que a Providência cansa
Que o destino dança

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Nomina sunt odiosa

Explorando o universo
Onde há somente um verso
Explorando o universo
Q’é Infinito q’é disperso

Mas que estrela me vêm iluminar
Dos confins do espaço escuro?
És luz que cega sem cessar
Me chamas ávida num murmúrio

Quem porventura a quiser achar
Terá que saltar um muro
O crânio despedaçar
Expor o cérebro ao vento duro

Se eu cair quem me apanhar
Terá que me levar a casa
Cuidado para não se queimar
Com minhas veias em brasa

Solto as rimas ao luar
Não falo nem mando calar
Solto as rimas ao luar
E deixo-as dançar sem par

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Minha cabeça lateja para lá do esquecimento
Onde fui?
Onde estive?
Ah
Nada flui nestes braços de água
Sou a sede de agarrar
E contudo
Pesa tão pouco a minha alma

terça-feira, 21 de junho de 2016

É tempo

Continuo à espera do fim do tempo
Continuo à espera que traga vento
O tempo que ao passar lento
Adia a vida que tenho dentro

E quantas mais se passarão
Noites vagas e sem paixão
Até que entre em ebulição
Este pesado coração que carrego na mão?

Ó tempo que corre e jamais espera
Que passas lento e és a quimera
Que passas célere e és a fera
Devoras o Homem, devoras a Era

Concede-me um tempo no espaço
Que a vontade do Homem é de aço
A carne é que não dura
A alma é que não murmura

sábado, 4 de junho de 2016

ALA-ARRIBA

Ó pescador no cume da arriba
Q'és primordial quanto ela
Q'és maciço quanto ela
Tão ermo quanto ela
Ó pescador no cume da 'rriba

P´ra ti além-mar é rota
Prá ti o horizonte é perto
Tudo o resto é que é longe...

ALA-ARRIBA PESCADOR!

Q'hás-de partir para outro lugar
Q'hás-de bailar a valsa do mar
Oxalá encontres teu lar...

Ó pescador no cume do firmamento
Levanta ferro ao desalento
Iça tuas velas d'em contra o vento
E deixa-te ir a naufragar
Ó pescador no cume do firmamento

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Levanto os olhos vejo o Céu
Quero adormecer sobre o seu véu
E deixar voar...

Mas o que encontro é o desencontro
E pelos becos eu me afronto
Quem me dera eu lá estar...

Perante o mito eu fico aflito
Preciso de encontrar o grito
Que só no Mar encontra par...


sábado, 23 de abril de 2016

FADO DA ENSEADA

A minha alma está manchada
E o meu corpo é uma cilada
Pensava sempre que era eu
Pensava sempre que era eu

A minha alma está viciada
Num corpo de noite errada
Pensei sempre que fosse eu
Pensei sempre que fosse eu

Meu coração ficou na praia
Numa enseada abandonada
Pensei sempre que fosse o meu
Pensei sempre que fosse o meu

Quando eu morrer serei a estrada
Tão remoída e esburacada
A minha alma não esqueceu
O coração é que morreu!


XXIII - IV - MMXVI

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

FÉNIX



O céu era cinzento
O seu pastor era o vento

Mais um comboio vai passar
A caminho do mar

Mas houve algo que nasceu
Do salgueiro que morreu

Uma urgência de amar
E uma incerteza em ficar

Mas será que era Eu?
Tua almavaga q' ardeu?

Fénix convida-me a amar
Fénix arde sem cessar

Cinzas enegrecem o luar
Homempássaro filho do ar

O Homempássaro nasceu
E o ressurrecto sou Eu!

Do lado de fora do tempo
Nasce filho do vento


XII - II - MMXVI