domingo, 30 de março de 2014
ELA TRAZ A PRIMAVERA (Poema do Amor Raro)
Olhei-lhe bem para dentro dos olhos
E vi os campos
Vi a maravilha
A tempestade
A cidade e as serras
Vi os meus olhos reflectidos nos dela
E a minha alma reflectida no mar que é dela
É tudo dela eu sou todo dela
Senti uma urgência de a agarrar
Para a levar e mostrar-lhe
tudo
quis desabotoar-lhe a blusa
dedilhar-lhe a pele arrepiada
usar tudo o que nela é mortal
cheira tudo tão bem
ah o cheiro tira-me verdadeiramente do sério
como pêssegos que colho e recolho
das florestas mágicas do seu decote
às vezes parece que não consigo aguentar
seu delicioso contorno
encosta-te a mim
usa o meu ombro
deixa-me beijar os teus,
pomares de algodão suave,
que ombreiam olhos meus
quando me sobes à cabeça
bates dura contra os muros da minha existência
deixas-me sedento de ternura
desvairado de desejo
não preciso mais da vida
não preciso mais do sangue
vou sepultar-nos os dois numa cama
e morrer dentro de ti
(...)
sei que és
podes dizer
eu sou
diz-me
eu sou
deixo-te desabrochar mais um pouco
quero ver como és linda
quando trazes a Primavera
para V
XXX / III / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro
quarta-feira, 26 de março de 2014
TEXASPARIS
Purga murta mata
Buga conchar caca
P'ra enfardar a cana ao nariz
Está saber-me mal este Texasparis
Só me apetece fornicar a cozinheira
Untar-lhe a testa com frango seco
Misturar-lhe nitroglicerina no café
Só me apetece estourar o céu à boca
Côrcomer-lhe a voz rouca
Engrudar um pouco a touca
Vou assoar-me vou cuspir os miolos
Vou vomitar-me vou sangrar dos olhos
VOu arregaçar as mangas até aos pêlos oblíquos
Puxar da alva da escarreta popular
E cuspi-la no olho da germokratia
Deixa-me dançar deixa-me voltar
Deixa-me partir deixa-me gritar
Deixa-me rebolar por debaixo da Terra
Até que as pessoas inundem as escadas
Pingue Pongue PANgue
Até lhes picarmos o sangue
Até lhes bebermos o sangue
Sanguegasolina ao clamor da glória
Que banhará esquálida escada em tons de vitória
XV / III / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro
domingo, 23 de março de 2014
SOL & CARNAVAL
Hoje o Sol, ontem o Carnaval
E bailamos como só a escuridão nos permite
ver
Pelos olhos fechados porém furados de um lado ao outro
de um outro lado, de lado algum
E o calor vermelho de nos suar as pálpebras
de sangue
Sangue:
esse cativo que nos cativa
E as lágrimas lacrimejam só elas
por elas próprias, com elas próprias
Lágrima a sequela, lágrima correndêla,
Lacrimeja a alegria que expulsamos porta a porta
borda a borda, lés a lés, dedo a dedo os tremendos pés
como uma pena como uma morte caída por qualquer cousa
ou qualquer lugar a ruminar o amar em desmamar
A lágrima como elemento estrutural de qualquer vida
Lágrima pausa
(...)
Lágrima avança
Mandada ou mandante
Mandatária ou cigana
Ciganamente obscura cataliticamente cigana porém
E o dia vai viajando de mão dada com a hora do precipício
quem somos porém quem é que somos para quem o somos
ou por quem somos nos confins do sonho ou realidade divina
realidade sonhada ou sonho realizado por outralguém
ou está-se bem ou por aquém
E nossos corpos cristalevados salgados à inexistência
salgados da inevitabilidade, atirados ao inevitável
para sentir ou se sentir
sentir como se sentíssemos
esse gigante Adamastor
esse gigantismo puramor
Que a felicidade é afinal não o sentir
É não saber sequer que se existe
terça-feira, 18 de março de 2014
VIVE e DEIXA MORRER (Live & Let Die)
Pança de criança
Barriga de fome
Barqueiro contrabalança
Do que o fígado come
Quero espremer quero abraçar
Quero-te pegar
Quero-te
Largar no inferno
Vem sorver vem sentir
A face enegrecida à treva à noite
Os estigmas esburacando as palmas
Um rodopio frenético de almas
O sangue brotem e sangue serem
Chupar o sangue até os dentes apodrecerem
As garras frias ríspidas malformadas
E os Homens a viver o violento delírio
esquizoides malamados de cinza de pedra
O incisivo dano e o mais profundo corte
Soa tremelicante a latência de morte
E o mamífero sangra até ao útero
Olha só como eles se contorcem
Olha só como tu te contorces
Num ferrugento retinir de carne sobre osso
E escutas agora
Porque antes não podias matar
o bel’cantar aos pássaros
Alegremente engaiolados em uns contra os outros
Em uns sobre os outros em uns dentro dos outros
Sorve o negro sangue ao negro rebanho
Sente a força e a omnipotência
O poder e o equilíbrio
Vive e deixa morrer
Deixa tudo morrer à orla do olhar
XVIII / III / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro
Luís Alves Carpinteiro
terça-feira, 11 de março de 2014
CIDADE DO VENTO
A Cidade do Vento caminha
sem perdão
E todos
Mas todos
ressentimos a saliva aos dentes
(...)
É terra de caloteiro é terra de in fusão
Seus Deuses suas folhas esvoaçam sotavento
Seus rostos de deutério quão pesado é o grilhão
Quantos rostos quantos queixos padecem de mim
Quantos condenados o vento poisou aqui
Quantos condenados o vento poisou sem fim
Quantas almas exoneradas de popa e de bikini
Destinadas a rodopiar no mais perpétuo recreio
Exaltar quão belos são os campos de centeio
Antes de nos esbardalharmos contra a sebe do infinito!
Antes de comermos ostras com Maurice Precipíce!
Tareco não sabe dar seja a quem
Tareco não sabe o que há no além
Tareco não fala quantos surdos ele sem
Tareco não conta quantos mundos ele cem
Não venero o alcance da balística do BOOOM!!
Não posso saber o que vai acontecer
Se acender uma cabeceira debaixo di tutti vela
Se deixar meu troppo corpo cair trôpego da janela
XI / III / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro
sábado, 8 de março de 2014
O poeta não pode ter pontos
O poeta não se pode esconder
Para lá dond' a vista alcança
O poeta não se esconde
Por detrás do podre florir
O poeta não pode descrever
Aquilo que não viu ontem à noite
O poeta não pode descrever
Não pode e ponto.
O poeta não exalta o ego com palavras
Não se ufana, não se ensoberbece
O poeta mastiga a realidade aos sonhos
E cospe massa análoga a carne picada (get my meaning?)
O poeta não é pessoa
O poeta não pode ser pessoa
Que não sabe ser pessoa no meio das pessoas
O poeta não é isto e pouco mais
É positivo e meraltivo
O poeta não é Deus
O poeta nunca foi de deus
...
O poeta tampouco sabe a resposta às suas próprias questões
O poeta não te ensina porra nenhuma e ponto.
VIII / III / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro
sexta-feira, 7 de março de 2014
Ode à Perdição das Massas
Parece que alguém me perdeu
Ou Eu próprio me perdi
Ou estarei desencontrado
Tanta descoberta e tudo se perde
Na turbe tão turbilenta!
A alma mutada do excesso e da velocidade
As bochechas ao léu que a anca contrabalança
A multidão e as suas gentes goddamned gente!
Vi minha sombra cessar na sua efemeridade
Eu digo que ninguém traz nada de lado algum
Eu digo que a roda continua a girar perpétuamente
Não! Digo. Nada continua
E a única constante é o tempo
VII / III / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro
quarta-feira, 5 de março de 2014
MEIO-DIA
A minha vida é um filme de cowboys
Meu chispe crestado dos mil sóis
Meus olhos toldados da pouquíssima memória
Firmes, pestanejantes da hora que também nos cavalga
Tremo sobre os tremendos ossos das mãos
Faço a frente aos meus inimigos
Sinto-me engatilhado, prestes a explodir
Fizemos a cama na encruzilhada
Fizemos o dia na encruzilhada
E agora um de nós tem de morrer
A dor de matar é menor que a dor de morrer
O sangue é mais doce que o mel
E na noite que não deixámos morrer calada
Desfazemos a cama e morremos os dois
12:00
V / III / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro
sábado, 1 de março de 2014
A ESCADA
E o poeta sonhou:
Assim que o Sol nascia
E porque o Sol nascia nas alturas
Eis que a colossal escada era erigida
Para que os anjos dela ascendessem e descendessem
E para que o Senhor se sentasse no topo dela
Com a força dos mil bravos
A escada encavalitava encaracolando as nuvens
O Sol queimava-lhes o fundentro aos olhos
Vazava-lhes a lage púmblea ao suor
Na ausência de outro espaço dentro do espaço
Naquele poço-fornalha os germinara
Deus deu aos filhos a abundância que não se sabe conter
Um coração um só corpo firminabalável contra as trevas
Carburando os corações em chamas dentro deles
O Senhor tocou-os assim cálidos e sorriu
I / III / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro
Assim que o Sol nascia
E porque o Sol nascia nas alturas
Eis que a colossal escada era erigida
Para que os anjos dela ascendessem e descendessem
E para que o Senhor se sentasse no topo dela
Com a força dos mil bravos
A escada encavalitava encaracolando as nuvens
O Sol queimava-lhes o fundentro aos olhos
Vazava-lhes a lage púmblea ao suor
Na ausência de outro espaço dentro do espaço
Naquele poço-fornalha os germinara
Deus deu aos filhos a abundância que não se sabe conter
Um coração um só corpo firminabalável contra as trevas
Carburando os corações em chamas dentro deles
O Senhor tocou-os assim cálidos e sorriu
I / III / MMXIV
Luís Alves Carpinteiro
Subscrever:
Mensagens (Atom)